terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Escola de Nova Friburgo, no Rio, veste luto

"Ao seu lado, o sol não brilhará/um rio nasceu do pranto, por ele naveguei", diz um trecho do samba-enredo da escola Unidos da Saudade, agremiação de Nova Friburgo, no Rio. Desde a última quarta-feira, 12 de janeiro, a quadra da escola serve de abrigo para os corpos das vítimas das enchentes da região serrana do Rio de Janeiro.

No lugar das fantasias, os caixões. Mais de 140 passaram por ali. A prefeitura escolheu o local para abrigar as vítimas devido ao tamanho e por ser coberto. Fundada em 1948 e 18 vezes campeã - incluindo o título do carnaval friburguense de 2010 -, a escola declarou luto e não irá desfilar neste carnaval.

Em entrevista ao site UOL, Luiz Carlos Teixeira, presidente da Unidos da Saudade, declarou não querer samba este ano. "Somos sambistas, mas não queremos Carnaval este ano. Não há clima.

O samba hoje é triste. A única alegria é poder servir esse espaço para uma necessidade da população”. Eram 680 pessoas mortas até agora, quase 14h30. O número de desabrigados e desalojados somam, por enquanto, 21 mil. Um cenário desolador.

Sim, o samba entristeceu - como toda gente. Na internet, encontrei um vídeo sobre o "poeta que se inspira nas enchentes" - o repentista Manoel José Filho, de Palmares, Pernambuco. Que questiona a (má) administração municipal e classifica a cidade de "antro de tapete e lama". A partir dos 4 minutos, Manoel declama seus versos.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sambas de 2011

Não é preciso gastar dinheiro para decorar os sambas das escolas de São Paulo. Nem ficar "vendido" durante o desfile - ou na cobertura jornalística - sem qualquer tipo de informação sobre as agremiações.

O site da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo traz a ficha técnica das escolas, com o nome do samba deste ano, autor, endereço das quadras, com telefone e site de cada uma, caso possuam página na internet.

Na página incial da Liga, os sambas deste ano estão disponíveis para serem ouvidos gratuitamente. O endereço: http://www.ligasp.com.br/.

Falar em samba, letra e música do Bota Calhau estão sendo produzidas por nossos colegas de redação. Em breve, mais notícias aqui, no Twitter e no Facebook.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Auto-estima do paulistano

Alguma coisa acontece no meu coração - sim, e é arritmia, desgosto - quando os primeiros acordes de "Sampa" ressoam em pretensa homenagem à cidade. Tá. Admito, a música é bonita.

Mas "[São Paulo] Meu coração e você são um novelo de lã, são viadutos vazios, são três horas da manhã", dos versos da canção "Bom dia São Paulo", do saudoso Zé Rodrix e Tico Terpins, gravada pelo Joelho de Porco, são tão poéticos quanto a canção de Caetano Veloso.

No samba, na bossa, na fossa, na velha e nova MPB não faltaram homenagens. Inclusive de nossos vizinhos, como Jorginho do Império (Serrano), que gravou, em 1976, "Eu canto São Paulo":

"São Paulo, das noites de frio,
No Rio, sinto mais calor,
O Rio, me inspira em poesia,
São Paulo, me inspira em amor!"

E "Dobrado de amor a São Paulo", o poetinha Vinícius de Moraes também deixou a sua contribuição, lembrando que, "se o frio aperta, abraço mais o meu amor". Tom, "Te amo São Paulo" - embora, inegavelmente, não seja uma de suas letras mais encantadoras. Pois é.

Demônios da Garoa cantou "Isto é São Paulo"; Billy Blanco deu "Viva ao Camelô", cantou a "Rua Augusta", a "Capital do Tempo". Adoniram Barboza compôs "Praça da Sé" e "Um samba no Bixiga", Eduardo Gudin e Costa Netto, "Paulista", Itamar Assumpção, "Venha até São Paulo".
A surpresa, contudo, está na absoluta ausência de arquivos de áudio e vídeo.
Se nossa auto-estima amarga, por certo, parte disso se deve a pouca importância atribuída à nossa memória, história e cultura - particularidades tais muito presentes não apenas no Rio, mas no Recife, em Belém, em Porto Alegre.
Depois de muita pesquisa, encontrei uma raridade: em 1968, Tom Zé recebeu o prêmio especial do júri, no festival de música da TV Record, com "São São Paulo" - ou "São Paulo, meu amor".
Somos ao menos três milhões a mais que nos fins daquela década, que ainda carrega São Paulo no peito, apesar de todos os seus defeitos.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Quem não gosta de samba, bom sujeito não é

Pra não repetir (quase sempre) que São Paulo era o túmulo do samba, um carioca muito amável e devoto fervoroso dos blocos do Rio, Felipe Grandin, dizia que iria fundar, aqui, o Gurufim do Samba. Gurufim é um velório com festa.

São Paulo tem céu nublado - de tempestade ou poluição - a maior parte do ano, trânsito todos os malditos 365 dias e aquela obra genial, cortando o centro, o Elevado Costa e Silva. Tem bar com coqueiro, outro que se chama Prainha, apesar de a porção de mar ficar a pelo menos cem quilômetros daqui. Reclama que trabalha demais e vai pro boteco pra falar do trampo até mais tarde.

Mas tem alma de brasileiro - essa porção genuinamente festiva, que escancara o riso e vibra e grita nas arquibancadas "é carnaval". Todo mundo é meio bamba, é meio samba. Ainda que apenas n'alma.

O Bota Calhau surge assim: inspirado no bloco "Imprensa que eu gamo". No melhor estilo, concentra, mas não sai - que paulistano só sai em off. Nasce do amor incondicional à farra e à boemia.

Ziriguiduns - ou não - das redações da capital, sambá, sambé, sambi, sambó, sambu!

O Bota Calhau irá se reunir em um bar a ser definido - na região Central - uma semana antes do início do Carnaval: pra beber, rir, reclamar e mais.

Estão todos convidados! Bora lá!